terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Kopenhagen - Ainda há esperança (?)


Como todos sabemos, vem ocorrendo há mais de uma semana a Cimeira do Clima em Kopenhagen - COP 15. A cobertura que a imprensa alemã tem feito, no entento, é vergonhosa, chegando mesmo a ser uma não-cobertura. As manchetes políticas nacionais ofuscam completamente a Cimeira.

Mesmo assim, tenho procurado me manter atualizado no tocante às discussões e ao andamento em geral do evento. Lembro-me bem quando, em janeiro deste ano, no Fórum Social Mundial, foi diversas vezes mencionada a Cimeira. Um momento decisivo, de compromisso amplo e ilimitado dos Estados. A realidade, porém, é bem mais cruel.

Entre os jornais alemães de maior circulação nacional, figuravam algumas reportagens. O Tageschau fala em "Nervosität, Anspannung und wenig Fortschritt" (Nervosismo, Tensão e poucos avanços). Na mesma linha, o Spiegel pinta um cenário de fracasso total antecipado da COP 15, com a reportagem "Copenhagem está no fim". O Die Welt dedicou ma página inteira para se divertir com as declarações do Instituto de Estudos Climáticos de Potsdam, de que as mudanças climáticas também contribuíram para o massacre no Sudão. O Die Zeit, maior jornal alemão, segue a mesma linha de pessimismo, com reportagens superficiais sobre Copenhagen.

Um dos principais motivos pelo qual as negociações não tem resultado é a fuga das responsabilidades. Os países do terceiro mundo transferem a culpa aos países industrializados e aguargam por medidas, para então iniciarem as suas. O hemisfério norte reconhece as críticas do sul e promete ajudas na ordem dos bilhões de euros aos países subdesenvolvidos, para que estes combatam as mudanças climáticas. A UE vai doar 8 bilhões de euros para exclusivamente para esse fim a diversos países africanos. A quem pretendem enganar?

Os EUA, responsáveis por maisde 25% das emissões do planeta, prometem reduzir em 15% as mesmas até 2015. Alguém acredita nisso? Lula também já se posicionou e prometeu reduções dentro do prazo dado pela conferência. O Brasil é um dos maiores poluidores do mundo (o quarto, acredito) e 50% dos gases estufa que jogamos na atmosfera vêm da pecuária. É uma praga mesmo... demanda latifúndios enormes, polui mais que qualquer indústria e é a principal causa de desmatamento da floresta amazônica. Seria possível falar em consciência ambiental no Brasil, quando uma empresa brasileira é a maior vendedora de carne bovina do mundo? E a China, então... essa nem se fala. Sabe criticar os EUA mas não olha pro próprio umbigo.

Os burocratas têm mais 48 horas para se dedicarem a construir algo sério. A partir de amanhã (16.12.2009) começam a chegar os chefes de Estados cujos ministros de meio ambiente já participam das dicussões desde o início. Até o Papa já se pronunciou. Só falta aqueles que têm o poder de decidir alguma coisa.

Daqui, da Universidade de Hamburg, saiu um grupo de 15 estudantes para a Cimeira. Participaram de algumas discussões e conversaram pessoalmente com o representante do governo brasileiro na COP 15 e com alguns estudantes de outros países. Ao que contam, os estudantes chineses são os mais complicados, vez que se expressam nas mesmas palavras ditas por Hu Jintao, ao criticar os EUA e demais países desenvolvidos.

Nesse ritmo, seguem os trabalho na COP 15. A sociedade alemã completamente alheia a tudo o que está sendo discutido. Agora me pego imaginando como estará a sociedade brasileira com relação a esse evento.

Já sabíamos que uma cimeira não iria mudar o mundo. Mas, depois de vinte dias de reuniões, não produzir nada de concreto, isso eu não esperava.

Como li num panfleto de rua: "alle reden vom Klima. Wir nicht!"

Vejamos!

1 comentários:

Wagner Arandas disse...

Olá Victor, sou Wagner do mestrado de Direitos Humanos/UFPB, que bacana seu blog. Enquanto a cobertura da COP 15 por aqui, vem sendo feita de forma tímida, com algumas exceções como o Reporte Brasil da TV Cultura, no mais, a preocupação com temas ambientais é boa quando ajuda nos negócios, nunca quando atrapalha. Um forte abraço!

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