sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A viagem é uma peregrinação de identidades


Sabem aquele dia no qual aconteceram tantas coisas, que ao final do mesmo você acha que já passou uma semana, mas você não queria que acabasse?

Pois é, ontem (29.10) meu dia foi assim. Começou mal quando recebi a notícia, por meio de minha professora, de que não poderia cursar alemão aqui porque não sou Erasmus. Mas conversei com a coordenadora do curso e ela permitiu que eu fizesse um curso especial de alemão, não tão aprimorado, mas simultâneo com um curso de alemão jurídico.

Depois disso, foi o dia em que mais falei portguês desde que cheguei em Hamburg. Alemocei na cantina da Uni-Hmbg com uma amiga brasileira, Elisa, de Belo Horizonte. Elisa é casada com um alemão e veio para Hamburgo fazer um master em Arquitetura. Durante o almoço, conhecemos uma outra brasileira, de Fortaleza, a Paola. Ela estuda Etnologia e Psicologia na Universidade e mora em Hamburgo há 2 anos, com a mãe. Antes disso morou 3 anos em Londres, pois a mãe estava no doutorado.

Depois do almoço bebemos um café juntos e fomos em busca de uma professora paraibana que mora em Hamburg e dá aulas na universidade há bastante tempo - a professora Vânia Karsch. Queria pessoalmente agradecê-la por ter auxiliado no meu processo de intercâmbio para a universidade de Hamburg. Essa senhora, simpatissímia, é hoje a grande ponte entre a UFPE, UFPB e a Uni-Hamburg! Ao falar com ela, avisou-me que a noite haveria uma noite literária no prédio de filosofia, com a apresentação da tradução em alemão de dois livros de Bernardo Carvalho. Assisti a uma aula cansativa e fui à palestra.

Carvalho é jornalista pela Folha e escritor (foto acima). Tem seus livros traduzidos em diversas línguas e ganha cada vez mais projeção fora do Brasil. Nenhum dos três fazíamos idéia de quem ele era e resolvemos arriscar. No mínimo, iríamos ouvir um pouquinho de português e depois sair para jantar juntos de todo modo. Mas a surpresa foi deveras agradável! Dos trechos que foram lidos e do debate que se seguiu, gostei bastante do que ouvi. Bernardo investe numa literatura do vulnerável, do perdedor. Aposta em histórias de fracasso e usa constantemente termos negativos nas obras. Só não foi melhor, porque a tradução era simultânea, com aquela interrupção na fala do palestrante. O que também não prejudicou a integridade do evento.

Ao final da apresentação, fomos falar com o escritor, parabenizá-lo e trocar algumas idéias mais. Eis que surge a velha proposta de jantarem os organizadores e o palestrante, e nós fomos expressamente convidados! Fomos a um restaurante turco muito bom (Arkadesh), conversamos muito português e demos muitas gargalhadas, tudo isso acompanhado de boa comida turca e cerveja alemã. Entre "causos" vividos na Alemanha e algumas brincadeiras, normalmente surgia um tema literário: um livro recém-publicado, uma tradução mal feita, um autor preferido... e umas frases interessantes. Lá pras tantas, um professor gaúcho, falando sobre um livro que tinha lido, relembra uma passagem que marcou a noite: "A viagem é uma peregrinação de indentidades". Poucas vezes vi tantas palavras, teses, pensamentos condensados numa só frase. Infelizmente, não lembro o nome do livro, nem do autor.

Com essa frase me despeço, comprovando que uma viagem é, realmente, uma peregrinação de identidades!

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