quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Gutes neues Jahr!

Passa rápido, não?

2009 vai ficando pra trás. Um ano de muitas vitórias, experiências incríveis, entre elas uma em especial. O intercâmbio, que há anos estava na dimensão dos planos futuros, hoje é realidade. E essa é, sem dúvidas, a maior conquista deste ano. Feito este que não conseguiria sem o auxílio de minha família.

Obrigado mãe e pai, por incentivar e por despertar outros valores, de batalha, determinação e perseverança, mas também de coletividade e sensibilidade. Aos irmãos, devo a estabilidade emocional e a forte amizade, essenciais para estar onde estou. Uma homenagem especial a Danilo e Felipe.

Esse ano seguiu a tradição de ser o "melhor ano de minha vida". Espero que os seguintes assim o sejam. Para 2010 os planos são ainda mais ousados. Apenas posso garantir dar tudo de mim para executá-los.

Se sonhares, sonha mais alto!

Desejo um 2010 de muita luta e de muito suor a todos, pois só assim alcançamos nossos objetivos. São meus votos mais sinceros, direto de Hamburgo, Alemanha.

Novos valores para 2010

Uma pequena mensagem de final de ano. Que a utopia nunca esmoreça!


Abertura da MISSA DA TERRA SEM MALES, de D. Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, complementada por NOVO AMANHECER, de Manezinho Araújo. Inspirada por idéia de Rolando Boldrin, no disco VIOLEIRO.

Em nome do Pai de todos os povos
Maíra de tudo, excelso Tupã
Em nome do Filho
Que a todos os homens nos faz ser irmãos
No sangue mesclado com todos os sangues
Em nome da aliança da libertação
Em nome da luz de toda cultura
Em nome do amor que está em todo amor
Em nome da terra sem males
Perdida no lucro, ganhada na dor
Em nome da morte vencida
Em nome da vida
Cantamos, Senhor!

Eu jogo estrelas em cada noite escura
E na garganta ponho sempre uma canção
Nas auroras do meu peito há só ternura
A cada arrimo do amigo eu dou a mão

Entre as pedras do caminho eu planto flores
E faço luz se se faz escurecer
Sonho bonança, vivo esperança
O sol se abrindo para um novo amanhecer

O amor há de brotar, há de vingar e florescer
A paz há de reinar, há de espalhar o bem querer
O mundo mudará, nós temos que convir
É só viver o amanhã que há de vir

Amazon.de - Compras virtuais


Final de ano chegando, aparecem algumas promoções imperdíveis nos sites de compras do mundo inteiro. Em função do elevado volume de pedidos, algo pode dar errado.

Foi o que aconteceu comigo. Comprei uma máquina fotográfica no Amazon.de há 20 dias, junto com cartão de memória e capa. Cada item é comprado em separado e enviado pela respectiva empresa. A capa chegou, o cartão de memória voltou para os armazens da ASBERO (empresa) e a máquina foi dada como entregue, sem ter sido.

Quem mora numa residência universitária na Alemanha vai estranhar, mas é comum que os correios entreguem o produto a um vizinho, caso você não seja encontrado em casa. Há uma forte presunção de "familiaridade" entre o comprador e os 140 moradores do alojamento (meu caso).

Há uma semana, já chateado com atraso no recebimento dos produtos, escrevi ao serviço do consumidor da Amazon.de. Me informaram que a câmera foi entregue a uma pessoa cujo nome sequer consta na lista de moradores da residência (tinham inclusive a assinatura do camarada). Alguma coisa não correu como esperado; a máquina foi entregue no endereço errado e alguém a recebeu por mim. Em estando noutro país, com outra língua, fiquei receoso de estar numa situação de prejuízo irreparável.

Um conselho é sempre refletir sobre o que ocorreu e nunca ficar calado. Respondi ao e-mail em inglês, bastante agressivo, criticando esse sistema de entrega aos vizinhos e deixando bem claro que não pretendia ficar passivo. Por fim, perguntei como faria para receber o produto adquirido e já pago.

Não teve outra. No dia seguinte responderam pedindo desculpas e confirmando novo envio da máquina fotográfica. Pediram apenas que, caso receba duas, devolva uma delas. Meu caso foi com uma câmera fotográfica, mas isso pode se passar com qualquer coisa, em qualquer país.

E nesses casos, baixar a cabeça nunca é a melhor solução. Tá dada a dica.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Neuengamme Konzentrationslager (KZ)

Já de volta em Hamburg, sou recebido por um lindo dia de sol, muito embora bastante frio. Reservo a tarde para conhecer o campo de concentração de Neungamme, que fica numa cidade vizinha a Hamburg - Bergedorf. Um passeio impressionante, em função de toda a história que o local carrega consigo. Os filmes de Hollywood ajudam a pintar um quadro do que seriam essas instalações. Porém, não há nada como conhecer uma pessoalmente, e sozinho.



Hamburg não possui muito monumentos sobre a Segunda Grande Guerra. A cidade foi completamente destruída por bombardeios no verão de 1943 pela Royal Air Force britânica, inclusive o KZ Neuengamme. E quando digo completamente, quer dizer literalmente. A cidade era proeminente na economia de guerra (Kriegswitschaft) instaurada pelo Reich alemão e representava uma ameaça aos aliados.

Em 1940 foi construído o KZ em Neuengamme, a bons 20 km de Hamburg, o que garantia sigilo com relação ao que ali se passava e proximidade com ametrópole, para diversos fins. Possui aproximadamente 20 km² de área, que incluía a prisão, enfermarias, duas fábricas de armamento, alojamentos das SS, dois crematórios e um caminho de ferro exclusivo. Durante seu funcionamento, albergou 106 mil prisioneiros, dos quais aproximadamente metade morreram.



O local é hoje pacífico, solene, silencioso (ouvindo-se apenas o barulho de alguns carros distantes). Resta em meio a campos de agricutlura e um complexo de moinhos eólicos. Não possui muros delimitadores, apenas estacas de metal em todo o seu contorno. Das prisões em restaram apenas dois blocos, havendo os outros sido destruídos durante os bombardeios.

No lugar dos crematórios encontram-se monumentos de lembrança aos que faleceram. Já as fábricas estão em perfeito estado, havendo inclusive máquinas usadas à época. Estima-se que 400.000 detentos tenham sido submetidos a trabalhs forçados em Hamburg, inclusive em Neuengamme. Nas suas fábricas eram produzidos rifles e pistolas para as frentes de guerra.

Com o fim do conflito, o campo foi administrado pelo Reino Unido, que mais tarde devolveu ao Estado Alemão. Hoje alberga arquivos de diversos museus da Alemanha e uma fundação que busca manter viva a lembrança do que foi feito durante a guerra.

Um local pouco divulgado e escassamente visitado, mas de visitação imprescindível para todos que habitam em Hamburg e procuram saber mais sobre a história da cidade.

Natal na Suíça

Com o Natal se aproximando, o destino não poderia ter sido diferente: família. O fato de estarem na Suíça apenas tornas as coisas mais interessantes.

Meu voo para Genebra (Genf, em alemão) partiu depois de uma hora de atraso, em função da nevasca que fustigava a cidade. O avião precisou ser descongelado (de-iced), para que pudesse seguir. Já em Genebra, me encontrei com tia Goreti, meu primo Joel e sua namorada Rosanne. Juntos saimos à descoberta dessa cidade maravilhosa, debaixo de agradáveis 14 graus de temperatura.



A mais internacional das vilas suíças, Genf possui pouco mais de 200 mil habitantes (a Suíça inteira tem sete milhões). É a sede de diversos órgãos internacionais, particularmente a Cruz Vermelha Internacional e organizações como a internacional do Trabalho, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, tendo as próprias Nações Unidas aí um palácio.



É cortada pelo rio Rhône e encrustada no lado sul do lago Lemán. O rio é de um verde cristalino e o lago imenso, como um oceano. É também a cidade natal de um ilustre cidadão: Jean-Jacques Rousseau. A arquitetura é marcada por cores claras, bege e branco, ao contrário de Hamburg, o que a torna ainda mais bela. Por todos os lados há joalherias com os famosos relógios e canivetes suíços - um orgulho nacional.

Já em Sierre, cidade de tia Goreti, pude rever Alain e meu outro primo, Pablo. Fomos em busca de uma árvore de Natal e descobrir um pouco mais de Sierre. Fica no interior da Suíça, em meio aos Alpes, na região de Valais. Está a alguns minutos das mais famosas estações de esqui da Suíça e da Europa, como Crans-Montana, onde Roger Moore tem residência fixa.



Foi exatamente aí onde esquiei pela primeira vez. A preparação é complicada: ajustar esqui, vestir todas as roupas a prova de vento, noções básicas etc. Mas uma vez esquiando, a sensação é incrível! Claro que fiquei na pista junto com as crianças de 3 anos, mas e daí? Depois de rápidos avanços, passamos no segundo dia para uma pista profissional, a de Aminonah. Essa me quebrou todo. Demasiado inclinada, exigia movimentos rápidos e um equilíbrio fora do comum. Uma senssibilidade que se adquire com tempo, tempo este que não tive.



A noite de Natal passamos com a família de Alain, num típico casebre das montanhas - aconchegante e belamente decorado, com uma vista incrível para os Alpes. As aldeias ao topo parecem jóias, pequenas gemas. Um momento inesquecível.

E como o tempo não pára, já estou de volta em Hamburg, planejando o Silvester/Reveillon e programando as futuras aventuras em solo europeu.

Novamente, Feliz Natal a todos!

sábado, 19 de dezembro de 2009

Hopenhagen?


É oficial. A cimeira de Copenhagen encontrou seu fim da maneira mais tímida possível. Não seria demais falar em um fracasso retumbante.

Depois de duas semanas de negociações, os represetantes dos 193 países do mundo não conseguiram em momento algum alcançar consenso, especialmente no momento de elaboração do documento final - o "Copenhagen Accord".

O resultado? Uma mera declaração de intenções, sem nenhuma força obrigatòria, sem coercibilidade. Sabemos como é sensível essa questão da obrigatoriedade nos acordos internacionais, mas a falta de responsabilidade quanto à questão ambiental é estarrecedora. Além disso, o principal objetivo da COP 15 era elaborar um acordo politicamente vinculante. Se não conseguiu, falhou.

Chegamos ao "Zwei-Grad-Ziel", ou objetivo dos dois graus, segundo o qual os países se comprometeram a evitar o aquecimento do planeta em dois graus até 2020. Mas dizer que vamos evitar que a Terra aqueça 2 graus, sem especificar os meios pelos quais o faremos é o mesmo que não pretender nada.

Foi isso e o fundo de 100 bilhões de dólares para os países pobres. Fundo este para o qual o Brasil irá contribuir, enquanto quarto maior poluidor do mundo. Essa foi a principal contribuição dos EUA para a cimeira, que na hora de doar é bem mais eficiente que ao assumir responsabilidades. Comprometer-se com a retribuição financeira do prejuízo a posteriori é mais fácil do que assumir responsabilidades a priori. É a inversão daquela velha e conhecida máxima do mais vale prevenir de que remediar. Claro que a proposta foi acatada imediatamente pela UE e pelo Japão.

O que ficou bem claro é que os interesses privados nacionais prevaleceram novamente diante do interesse coletivo. A questão é: até quando? Enquanto isso, vamos preparando essa nova geração, que a batalha vai ser grande.

É... parece que "Hopenhagen" não vingou.

Nathan, der Weise


Quinta-feira, dia 17, assisti a uma peça de teatro no tradicionalíssimo Thalia Theater, centro agitado de Hamburg (entre a Rathaus e a Hauptbahnhof - Estação de Trens). O teatro é magnífico, com três lances de galerias, lembrando ao longe o Santa Rosa, em João Pessoa. A acústica é perfeita e o palco não deixa nada a desejar.

O valor da entrada varia conforme a peça. Para estudantes, geralmente custa 5,50 euros, valor extremamente em conta, haja vista os preços de outras atividades culturais em Hamburg (uma entrada pra cinema custa 7 euros e 50). E depois, só em apreciar a arquitetura do teatro, já veleu a pena.

A peça era "Nathan, o Sábio", escrita em 1779 pelo renomado autor alemão Gottholf Ephraim von Lessing. Antes de ir, procurei saber um pouco sobre a mesma, já que o alemão antigo (Altdeutsch) revela-se difícil até mesmo para os prórpios tedescos. Mas não adiantou muito. Conseguia pegar palavras soltas, mas concatená-las e dar-lhes sentido, isso me pareceu impossível para quem está aprendendo alemão. Essa foi a impressão geral de todos que foram comigo.

Uma obra crítica, escrita nos últimos anos de vida de Lessing. Marcada pelo discurso da tolerância religiosa em tempos de amplas restrições por parte da igreja católica, a peça colocou Lessing contra a mesma. Tem lugar em Jerusalém, no ano de 1192, com três personagens principais: um judeu, um cristão e um mulçumano, na tentativa de questionar a intolerância.

O modo como foi adaptada nesta apresentação é que surpreendeu. Havia duas dimensões, sendo uma para os três personagens acima e outra para personagens atuais (que vestiam roupas atuais). O palco mudava a cada ato, com uma dinâmica riquíssima. A estética teatral e a performance dos atores me impressionaram bastante. A duração foi de duas horas e meia. Outra experiência única em Hamburg!

Depois, sob neve forte, fomos a mais um mercado de Natal, refletir um pouco sobre a mensagem da noite e tomar uma sopa picante de feijão (que fazia tempo que eu não comia por aqui).

Um forte abraço!

Aniversário de uma pessoa querida - Natal

A universidade já entrou em recesso de Natal; os estudantes intercambistas, em sua esmagadora maioria, já retornaram para suas casas; a cidade mergulha num clima profundo de Natal, acompanhado de muita neve e frio, de um jeito que nunca tinha presenciado antes.

E com isso vem a nostalgia, que chega dentro do tempo esperado. Dentro em pouco farão três meses distante de casa.

Não há como não lembrar da família e, em especial, de uma aniversariante importante. Todos os anos a família se reúne em torno de Vóvó Teresinha para celebrar seu aniversário e o Natal antecipado. Um momento ímpar junto daqueles que estão sempre ali quando se precisa.

Desta vez, serão comemorados incríveis 80 anos de muita vitalidade e muito amor. Um marco que torna esse momento ainda mais único.

Este dia 21 de dezembro estarei noutro hemisfério do planeta. Todavia, faço-me presente em espírito em mais um aniversário daquela que, com espontaneidade e carisma, consegue o feito de manter a família unida.

Esta mensagem é para você, vóvó Teresinha, a Sábia! Feliz aniversário! E que este seja mais um ano fazendo o que a senhora consegue com perfeição: trazer felicidade a bisnetos, netos, filhos, noras, genros e a todos que estão ao seu lado.

Feliz Natal a todos!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Kopenhagen - Ainda há esperança (?)


Como todos sabemos, vem ocorrendo há mais de uma semana a Cimeira do Clima em Kopenhagen - COP 15. A cobertura que a imprensa alemã tem feito, no entento, é vergonhosa, chegando mesmo a ser uma não-cobertura. As manchetes políticas nacionais ofuscam completamente a Cimeira.

Mesmo assim, tenho procurado me manter atualizado no tocante às discussões e ao andamento em geral do evento. Lembro-me bem quando, em janeiro deste ano, no Fórum Social Mundial, foi diversas vezes mencionada a Cimeira. Um momento decisivo, de compromisso amplo e ilimitado dos Estados. A realidade, porém, é bem mais cruel.

Entre os jornais alemães de maior circulação nacional, figuravam algumas reportagens. O Tageschau fala em "Nervosität, Anspannung und wenig Fortschritt" (Nervosismo, Tensão e poucos avanços). Na mesma linha, o Spiegel pinta um cenário de fracasso total antecipado da COP 15, com a reportagem "Copenhagem está no fim". O Die Welt dedicou ma página inteira para se divertir com as declarações do Instituto de Estudos Climáticos de Potsdam, de que as mudanças climáticas também contribuíram para o massacre no Sudão. O Die Zeit, maior jornal alemão, segue a mesma linha de pessimismo, com reportagens superficiais sobre Copenhagen.

Um dos principais motivos pelo qual as negociações não tem resultado é a fuga das responsabilidades. Os países do terceiro mundo transferem a culpa aos países industrializados e aguargam por medidas, para então iniciarem as suas. O hemisfério norte reconhece as críticas do sul e promete ajudas na ordem dos bilhões de euros aos países subdesenvolvidos, para que estes combatam as mudanças climáticas. A UE vai doar 8 bilhões de euros para exclusivamente para esse fim a diversos países africanos. A quem pretendem enganar?

Os EUA, responsáveis por maisde 25% das emissões do planeta, prometem reduzir em 15% as mesmas até 2015. Alguém acredita nisso? Lula também já se posicionou e prometeu reduções dentro do prazo dado pela conferência. O Brasil é um dos maiores poluidores do mundo (o quarto, acredito) e 50% dos gases estufa que jogamos na atmosfera vêm da pecuária. É uma praga mesmo... demanda latifúndios enormes, polui mais que qualquer indústria e é a principal causa de desmatamento da floresta amazônica. Seria possível falar em consciência ambiental no Brasil, quando uma empresa brasileira é a maior vendedora de carne bovina do mundo? E a China, então... essa nem se fala. Sabe criticar os EUA mas não olha pro próprio umbigo.

Os burocratas têm mais 48 horas para se dedicarem a construir algo sério. A partir de amanhã (16.12.2009) começam a chegar os chefes de Estados cujos ministros de meio ambiente já participam das dicussões desde o início. Até o Papa já se pronunciou. Só falta aqueles que têm o poder de decidir alguma coisa.

Daqui, da Universidade de Hamburg, saiu um grupo de 15 estudantes para a Cimeira. Participaram de algumas discussões e conversaram pessoalmente com o representante do governo brasileiro na COP 15 e com alguns estudantes de outros países. Ao que contam, os estudantes chineses são os mais complicados, vez que se expressam nas mesmas palavras ditas por Hu Jintao, ao criticar os EUA e demais países desenvolvidos.

Nesse ritmo, seguem os trabalho na COP 15. A sociedade alemã completamente alheia a tudo o que está sendo discutido. Agora me pego imaginando como estará a sociedade brasileira com relação a esse evento.

Já sabíamos que uma cimeira não iria mudar o mundo. Mas, depois de vinte dias de reuniões, não produzir nada de concreto, isso eu não esperava.

Como li num panfleto de rua: "alle reden vom Klima. Wir nicht!"

Vejamos!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Neve

Hoje nevou.
Timidamente, mas nevou. A cidade amanheceu com o manto branco, embora de pouca espessura, e durante o dia nevou diversas vezes.
A temperatura esteve abaixo de zero durante um bom tempo. O lago da residência e a fonte da universidade congelaram.
Isso pra mim também é novidade.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Lunaburg e Praia do Elba

Quem achava que Hamburg não tem praia? Bom, na verdade, eu. Mas semana passada fui à praia fluvial do Elba. Não difere em nada de uma praia marítima - até as ondas e o barulho característico têm (por conta dos navios que atravessam o rio). Não fosse o frio...


Essa aqui é na cidade vizinha de Lünaburg. Fica a aprox. 50 km de Hamburg e os estudantes podem viajar de graça, ou melhor, portando o Bilhete Semestral (Semesterticket) que compram no início do an letivo. Esse bilhete garante acesso a todos os melios de transporte no Estado de Hamburg - ônibus, metrô, trem e barco.

Lünaburg é a cidade natal de Niklas Luhmann e possui um mercado de Natal incrível. Parece uma vila cinematográfica. Foi muito rica no passado com a exportação de sal - por isso, membro da Liga Hanseática, liderada por Hamburg. Possui algumas Igrejas maiores que as daqui e pode ser visitada sem problema em duas horas.


Os de copo vermelho na mão são corajosos. Bebem Glühwein (sangria alemã servida pegando fogo). Nos copos azuis, o bom e velho chocolate quente. Repare que o cachecol já virou acessório essencial...


Fröhlich Weihnacht für alle!

Feuerzangenbowle - tradição

Feuerzangenbowle. Essa palavra complicada de pronunciar significa, ao pé-da-letra, Ponche das Líguas em Chamas. É uma bebida tradicional alemã consumida especialmente nas vésperas do Natal.

Consiste, igualmente, num filme cult, daqueles clássicos insuperáveis, aqui na Alemanha. Todos os anos, milhares de universitários de todo o país amontoam-se nas salas de cinema e em cineclubes improvisados para assistir ao clássico. Chegam a vê-lo quatro ou cinco vezes durante a vida acadêmica.

Ontem fui com minha turma presenciar essa tradição, como não poderia ser diferente. Fui advertido de que deveria levar comigo um despertador, uma vela e uma lanterna. Não entendi muito bem na hora, mas quando vi o filme percebi porquê. O público inteiro interage com as cenas! Quando um dos personagens usa uma lanterna, todos acendem suas lanternas. O mesmo acontece com o despertador e com a vela.

Produzido em 1944, ainda em preto e branco, o filme se passa numa escola média alemã. Uma comédia jocosa que quase não foi liberada pelo ministério da censura do Reich alemão, por reduzir a autoridade dos professores. No roteiro, os docentes são caricaturados e os estudantes sempre levam a melhor.

Antes de iniciada a exibição, alguns estudantes tentaram alertar para a necessidade de senso crítico ao assistir o longa. Não ver simplesmente porque é tradição. Um filme que foi produzido durante a segunda grande guerra e que passou na censura alemã merece atenção especial. Mas poucos ligaram a mínima ao chamado, enquanto a multidão clamava pelo início do filme.

Foi interessante vivenciar mais esse momento. Embora infundadas, qual a sociedade que vive sem tradições? Pena que, na maioria das vezes, atropelem a razão e o senso crítico.

Abraços!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Pausa

Esta semana, com uma prova de processo civil na sexta e um trabalho de direito civil para concluir, não deverei atualizar o blog com a freqência com que o tenho feito.

Entre os próximos posts estarão: a vida (suada) dos brasucas na Alemanha e o sistema de ensino no país, particularmente o dos juristas.

Abraços a todos!! E comentem os posts anteriores!

Diálogo no Escuro


Ontem (sábado 05.12.2009) vivenciei uma de minhas experiências mais marcantes até o momento na Alemanha. Eu e alguns amigos fomos a uma exposição chamada Dialog im Dunkeln, onde o principal objetivo é possibilitar aos visitantes vivenciar um pouco da batalha diária enfrentada por deficientes visuais, seja ao atravessar uma rua, embarcar, atravessar uma ponte ou simplesmente chegar ao balcão de um bar.

Na entrada da exposição devemos deixar de lado tudo que possa fazer luz. Somos recebidos por um guia (deficiente visual) num quarto semi-escuro e recebemos um "Stick". Com ele deveremos nos movimentar dentro das salas que se seguirão. O guia passa apenas algumas informações antes de entramos em cada sala - "a sala tem 15 metros e alguns obstáculos no caminho". E nos aventurávamos no escuro.

Lá dentro não se vê absolutamente nada. De início há um pouco de medo em não bater em ninguém do grupo, nem ir de encontro aos obstáculos. Mas é inevitável. Nesse momento, impossível não lembra do "Ensaio sobre a cegueira" do mestre Saramago. A sensação de impotência é enorme. Só aos poucos nos acostumamos a usar o stick e tatear bem os objetos.

Por ordem, fomos a uma feira, ao campo (tivemos que atravessar uma ponte estreita), à cidade (atravessar uma rua), ao porto (embarcar num navio) e a um bar. Cada cenário mais desafiador que o anterior.

Entre o porto e o bar, entramos numa sala onde nos deitamos no chão e escutamos por 10 minutos alguns sons. O chão vibra conforme o som reproduzido. No momento em que começamos a ouvir o som do mar, pensei em como um deficiente visual de nascença imagina o oceano.

A mensagem disso tudo é atentar para a qualidade de vida desse grupo, especialmente no Brasil. Na Alemanha tudo é pensado para facilitar a vida de um cego. Desde uma formação específica, a linguagem de Breil em todos os locais, a sinais sonoros nas ruas, a uma sociedade prestativa e cuidadosa.

Em última instância, trata-se de respeitar e admirar essas pessoas, sem subestimá-las. Apesar de simulada, a exposição desperta uma atenção especial para com os que não enxergam. Por isso, essa postagem exclusiva.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Arbeiten - uma boa alternativa

Uma postagem que interessa aos eventuais intercambistas que pretendem estudar na Alemanha. Trabalho!

Desde a semana passada estou cadastrado numa agência de emprego aqui que se chama JobCafe. Ela atua dentro da universidade e mantem uma base de dados com cadastros de alunos e de empregadores. É, sem sombra de dúvidas, a meneira mais fácil de encontrar trabalho por aqui.

Com o visto de estudos, só é possivel trabalhar 20 horas por semana na Alemanha. É mais do que suficiente para conseguir algum dinheiro a parte e não atrapalhar os estudos, nem o lado social por aqui. Além disso, conta enormemente como experiência.

O procedimento é simples: um empregador procura o Job Cafe e relata o perfil do "ajudante" que procuram, geralmente para empregos de um dia só (Tagsjob). Se o perfil e a disponibilidade se encaixam no teu perfil, eles te ligam e fazem a proposta.

Assim, trabalhei semana passada na casa de uma senhora que foi jornalista pelo Spiegel por mais de 25 anos. Ela tinha se mudado e precisava de ajuda para retirar seus livros de caixas e colocá-los nas estantes da nova casa. Recebi 9 euros à hora, sendo que a média alemã é de 7. Isso e uma tarde agradável, junto a uma feminista, que morou na Itália por 10 anos e em Nova Iorque por mais um tempo. Para aprender alemão, nada melhor.

Ontem e hoje trabalhei na maior Igreja de Hamburg, cartão postal da cidade - a Petrikirche. Ontem (03.12.2009) tivemos, eu e outro estudante, que arrumar uma sala de recepções, depois de um café da manhã patrocinado pela Igreja. Hoje (04.12.2009) o trabalho foi pesado. Tivemos, eu e mais 2 estudantes, que desmontar o altar e montá-lo noutra posição, para um concerto que haverá amanhã - não foi tão fácil quanto soa. Levamos 3 horas ao todo. Com isso, já deixei certo o trabalho amanhã, para remontar o palco - sendo que só seremos 2. Recebi 10 euros por hora. Ontem e hoje juntos, 50 euros. Não ouvi Lula, mas cheguei em casa com trintinha no bolso. Acho que valeu a pena.

E com isso, sigo a vida por aqui. Estudando, trabalhando, assistindo a palestras, farrando etc. Agora deixa ir lá, que vou encontrar alguns erasmus. Vamos a um "Singer Slam" (batalha de bandas) no bairro de Altona. É o soldo do trabalho já encontrando seu destino inevitável.

Auf Wiedersehen!

Brasil na vitrine


A conferência Brasi-Alemanha: tempo de uma nova parceria econômica deixou bem claro seu objetivo. Transferir tecnologia da Alemanha para o Brasil, em termos de logística aeroportuária, energética e de infra-estrutura. Tudo com vistas à Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

A delegação brasileira era composta por diversos ministros, muitos mais do que os nomes que citei na postagem anterior. Entre eles, Dilma Rousseff, Guido Mantega e Pedro Brito (Ministro dos Portos). Do lado alemão, o mesmo naipe de autoridades, mas especialmente empresários das maiores companhias alemãs. Todas as apresentações brasileiras continham números que demonstravam vertical crescimento econômico no Brasil desde 2003, passando uma imagem de segurança econômica e jurídica aos potenciais investidores internacionais. A Alemanha, pelo histórico de excelência nos setores acima, está na cabeça da lista entre os investidores almejados pelo Brasil.

Infelizmente não pude ouvir a fala de Lula. Após receber a confirmação para participar no evento, fui informado que não poderia mais estar presente, por "questões de segurança". Então, aceitei um trabalho para hoje de manhã, na hora da fala de Lula. Mas quando terminei, na hora do almoço, passei na Rathaus para ver o andamento do evento e conheci uma turma grande de brasileiros, todos a espera do presidente.

Cheguei com minha autorização (revogada) e consegui entrar. Mas as falas do turno da manhã já tinham sido encerradas e o pessoal estava seguindo para um buffet, num restaurante que fica em baixo da Rathaus. Bendita autorização! O almoço estava espetacular! Com direito a repetição, sobremesa e cafezinho. Tudo, vale ressaltar, 0-800.

Durante a tarde falaram Paulo Godoy (Abdib) Pedro Brito, Murilo Barboza (Infraero) e um representante da Petrobras. Já não havia mais a esteria em torno de Lula. Dessa vez eram só os empresários e os brasileiros na mesa de negociações. Achei interessante a fala de Pedro Brito. Usou muitos dados e pintou um quadro otimista (como não podia ser diferente) da situação futura dos portos no país - colocando-os como motor do desenvolvimento brasileiro. Nesse ponto, não há cidade melhor que Hamburgo para nos ajudar nessa empreitada.

Basicamente, colocou que o modelo portuário brasileiro é semelhante ao alemão, no qual os portos são administrados pelo Estado, mas com 100% de investimentos privados. A única diferença é que na Alemanha o responsável pela administração é o governo estadual, não o federal, como no Brasil. Mostrou a atuação do Brasil no sentido de fornecer a segurança jurídica necessária aos investidores e falou na possibilidade de Joint Ventures entre companhias brasileiras e alemãs, no sentido de construção de terminais interios privados (caso da Odebrecht e Thyssen Krupp num porto d do Rio). Falou inúmeras vezes na necessidade de um "marco regulatório atrativo ao setor privado".

Nesse ponto é preciso ter bastante cuidado e não abrir as pernas de vez na busca voraz por investimentos internacionais - até porque nessas parcerias nem sempre há a desejada "transferência de tecnologia e de Know-How". Outra necessidade mencionada está em inverter a lógica Este-Oeste, passando para uma Norte-Sul, na qual os atores do Sul podem assumir papéis mais importantes no jogo econômico mundial.

Alguns dos dados mais interessantes: Hamburg movimenta, anualmente, 6 milhões de peus (não sei se essa é a denominação correta...). O Brasil inteiro, 8 milhões. O maior porto do mundo, Singapura, 30 milhões, e Xangai, o segundo maior do mundo, 29 milhões. Ainda temos muito o que crescer... Só na Ásia encontram-se 6 dos 10 maiores portos do mundo. Há 10 anos, não havia nenhum lá.

Recolhi bastante material publicitário, revistas e dossiers com dados, que pretendo levar ao Brasil. Esse foi um dia espetacular em Hamburg!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Palestra com Lula e Gabrielli

Está confirmado!

Quem diria que eu iria a uma conferência com o Presidente da República do Brasil na Rathaus de Hamburg? Isso, sinceramente, nunca imaginei. Me inscrevi, de graça, e recebi a confirmação agora.

Próximo dia 4 de dezembro Lula virá a Hamburg, junto com Sérgio Gabrielli (Petrobras), Luciano Coutinho (BNDES), Murilo Barboza (Infraero), Marco Antônio Martins Alemeida (Secretário de Óleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia), Paulo Okamotto (Sebrae), Reginaldo Arcuri (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e Sérgio Resende (Ministro da Ciência e Tecnologia), entre outros.

O tema da conferência será: Brasil-Alemanha: tempo para uma nova parceria econômica. Um dos focos será, justamente, a copa do mundo de 2014 e os jogos olímpicos de 2016. E a Alemanha certamente não quer deixar passar essa oportunidade de inserção no mercado brasileiro. Do lado alemão estão diversas autoridades de setores idênticos - portos, aeroportos, energia, comércio de maneira geral.

É Lula fazendo melhor aquilo que o professor formado na Sorbonne não chegou nem perto de fazer. A representação do Brasil nunca foi tão forte e pujante em todo o mundo como é agora. Um evento desse tamanho significaria outra coisa?

Depois relatarei brevemente as principais falas. Grandes abraços!

Dois meses - retrospectiva

É incrível!
Dois meses já se passaram, numa velocidade que a física jamais conseguirá explicar. Desde que cheguei, a paisagem mudou consideravelmente. O que era outono, com um arco-íris de folhas rosas, amarelas, verdes e laranjas hoje são galhos vazios. Onde havia o som das folhas balançadas pelo vento, agora há silêncio. Próximo passo será o manto branco cobrindo boa parte da cidade.

A experiência continua enriquecedora. A possibilidade de estudar noutro país, com uma língua completamente diferente, com uma cultura diversa da nossa e sozinho representa um desafio enorme. Mas um que acredito estar superando a cada dia, aproveitando ao máximo. A barreira da língua vai sendo aos poucos dobrada; a cultura vai sendo respeitada e assimilada (sem jamais esquecer as raízes nordestinas) e o fato de morar só passa a ser visto pelo lado positivo, no sentido de amadurecimento pessoal.

Fazendo uma retropsectiva da viagem até aqui, sinto que faltou apenas um coisa coisa: viajar mais. Mas esse "problema" está parcialmente resolvido. No Natal embarcarei para Suíça, onde passarei 6 dias na casa de parentes. Na agenda está, pelo menos, turismo em Genebra e, quem sabe, até pinta uma esquiada nos alpes.

Em Janeiro já tenho passagem comprada para Estocolmo, capital sueca, onde passarei três dias, com Jatin, italiano do Süd Tirol. A passagem custou impressionantes 12 euros (sendo 10 das taxas do cartão de crédito) - numa das promoções da Ryanair por aqui. Ainda em Dezembro planejo passar um dia em Bremen, cidade vizinha a Hamburg, e Lübeck, vilarejo igualmente próximo, que todos dizem ser incrivelmente belo. Para o ano que vem ficará também a visita a Amsterdan e Copenhagen, aí sim, um sonho realizado.

Entre as atividades previstas estão, já para essa semana, um jantar num restaurante para cegos, chamado Dialog im Dunkel (Diálogo no Escuro) e nova ida ao Fórum Criminal. No decorrer do mês, visita a Casa de Detenção de Hamburg e ao Planetário. Uma visita ao Mundo em Miniatura também não é descartada.

Na universidade, tudo corre perfeitamente. Já consigo entender bem as aulas e também tenho os livros e manuscritos das disciplinas. As provas já começam na segunda semana de janeiro, mas farei apenas quatro avaliações. A rotina de estudos já está sedimentada, contando inclusive com um ou outro trabalho diário. O importante, no entanto, é não deixar o espírito de intercambista esmorecer. Por outras palavras, nunca deixar de se fascinar com uma paisagem bonita, ainda que cotidiana; de estar aberto a novas amizades e experiências; de buscar o desconhecido; de estar inquieto; de ter em mente que já já acaba... Quem não desenvolve esse sentimento não merece estar aqui.

Que venha o desafio! Ou seria oportunidade? Pois que venham ambos! Estamos preparados!

sábado, 28 de novembro de 2009

Independência da Albânia


Depois da festa de ontem, almocei hoje na casa de Albana, do Kosovo. Ela preparou um prato típico albanês, chamado Hallev, em homenagem ao dia de independência da Albânia - 28 de novembro de 1912. Segundo Albana, esse prato é árabe, em função da religião predominante no país - islamismo. A região onde hoje fica a Albânia foi durante muitos anos dominada pelo império turco, que aos poucos sedimentou o islamismo no local.

O Hallev é essencial nas comemorações de independência e é simplérrimo. Em alguns aspectos, a vida nos balcãs lembra a vida no nordeste brasileiro - sofrida. Os ingredientes são: farinha de trigo, açucar e manteiga. Ao final, ganha a forma de um bolo e gosto é esquisito. Não fosse pelo açúcar, seria um pão. Ainda bem que não foi a refeição principal!

Mais uma vez, tive uma aula de História. Albana esboçou um pouco da conjuntura política dos últimos anos na região da ex-Iugoslávia. Em poucas linhas, depois da segunda guerra mundial, foi regida pelo Partido Comunista, na figura do marechal Tito, que governou até 1980. A idéia de uma República Iugoslávia unida, durante esses anos, foi imposta a força. As diversas repúblicas que a compunham possuíam religiões distintas, costumes diversos e até mesmo rivalidades históricas. Alguma semelhança com a África?

Com a morte de Tito, as Repúblicas desmembraram-se e instaurou-se uma guerra civil no local. No caso da Albânia, o conflito era contra os Sérvios, que controlaram o país durante alguns anos. Grupos armados iniciaram a guerra, que se prolongou durante anos. Recusavam-se a ser controlados pelo Estado Sérvio.

Em 1999 a OTAN interveio no conflito, depois de denúncias internacionais de massacres perpetrados pelo exército sérvio em diversas aldeias albanesas. O bombardeio durou mais de 3 meses, durante todos os dias. De alguns anos pra cá a situação melhorou, mas ainda existe a tensão entre os povos. Isso foi somente uma explicação relâmpago sobre a política e história no local, que costuma ser esquecido em meio aos "grandes" europeus. Procurarei saber mais e precisar melhor essas informações.

No mais, é isso aí. Vivendo e sugando ao máximo cada experiência durante esse intercâmbio!

Astra Stub

Depois de uma semana puxadíssima, repleta de aulas e trabalho, nada mais merecido que uma noite de folga na sexta-feira. Nesse dia a cidade está em delírio - todo mundo na rua! O metrô funciona durante toda a noite e está sempre abarrotado de gente. Loucura!

De início, estávamos a procura de uma festa russa, com música ao vivo. Ouvir sempre as mesmas músicas depois de um tempo fica chato... Mas depois de 30 minutos girando pelo bairro de Schanze, decidimos mudar os planos. Depois de tanto andar, damos de cara com um bar chamado Astra Stub ("astra" é o nome da principal cerveja de Hamburg, produzida aqui), que fica num cruzamento, debaixo de uma ponte, numa esquina escondidíssima. Quem passa por fora num imagina o que tem lá dentro.

Música ao vivo e um ambiente incrível! Uma banda de Bremen, estilo Indie Punk, na esteira da conhecida Escola de Hamburg. Precariedade total (o bumbo da bateira era segurado por dois tijolos em cada lado e o pedestal do microfone tava quebrado), mas muita improvisação e muita qualidade também! E pra completar, a entrada "kostenlos". Primeira!

Abraços!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Sistema Legal Alemão - Strafgericht II - Drogenfall

Na quarta-feira voltamos a acompanhar um julgamento no Fórum Criminal de Hamburg.

Antes de entrar em mais detalhes, devo corrigir um erro que cometi em posts passados. Em determinado momento mencionei que a polícia na Alemanha é municipalizada. Me confundi, pois na Alemanha existem três Cidades-estado - Berlim, Bremen e Hamburg. A segurança pública é tarefa do estado federado, que no caso de Hamburg se resume à cidade. Por isso minha confusão.

Voltando ao tribunal, não posso deixar de exprimir minha decepção ao saber que nossa visita à casa de detenção - Untersuchungsgefängnis - foi adiada para dezembro e que a ida à santa Fu ficou para o verão. Más notícias!

O essencial sobre o funcionamento do tribunal eu acredito que já expliquei em post anterior. Há apena um tribunal reponsável pelas primeira e segudna instâncias. Por isso, poderei alterar entre fórum e tribunal. O caso dessa vez envolvia entorpecentes e se esttendeu mais que o esperado.

Em apertadíssima síntese, o réu estava sendo julgado pelo porte de 68 gramas de maconha. Ele tem 36 anos, alemão, é solteiro e empregado (não consegui entender onde). Como ele chegou até à sala de audiência não deixa de ser engraçado... Em fevereio de 2009 estava dando uma festa na sua casa, com alguns amigos. Lá pras tantas da madrugada os vizinhos, incomodados com o barulho, chamam a polícia, que vem até a casa para restaurar a paz social. Quando o cara abre a porta, os três policiais que o aguardavam sentem o cheiro da erva e exigem que os deixem revistar a casa, ameaçando voltar com os cães farejadores. O réu se recusa e tenta fechar a porta, no que uma policial coloca o pé e o impede de fechar. Na residência, foram apreendidas as 68 gramas.

Na Alemanha, como em muitos outros países, o consumo de maconha é descriminalizado. Perguntamos a professora qual é o limite de porte de maconha permitido, para que não se configure tráfico. Como ela é professora de alemão e não de direito, não soube informar. De todo modo, 68 é em muitos países consiedarado tráfico. E por isso o réu está sendo processado.

Como o caso envolve crime com pena mínima superior a um ano de prisão, na decisão influem igualmente dois juízes leigos, além do togado. Isso eu não entendi direito na Alemanha. Eles tem horror ao Júri, porque desprestigia a atividade do juíz, mas aceitam juízes leigos.

As testemunhas eram um vizinho e os três policiais que efetuaram a apreensão. O membro do Ministério Público exerceu seu papel e exigiu a condenação do réu. O advogado de defesa (um turco, ao passo que o réu é um alemão - o contrário da maioria dos casos, em que os turcos estão do outro lado da relação) abraçou a tese da inconstitucionalidade da ação dos policiais, que violaram o domicílio do réu sem a posse de mandado judicial (Untersuchungsbefehl), sem que se configurasse flagrante delito, já que a droga não foi vista, mas sim cheirada. Se vissem uma injeção, poderiam entrar do mesmo jeito?

O advogado pediu a invalidação das provas e a impossibilidade de realização dos testemunhos, já que todas as provas produzidas a partir daí estariam contaminadas, segundo a teoria dos "frutos da árvore proibida". Mas a juíza, que pediu uma pausa para decidir interlocutoriamente, não acatou a tese e prosseguiu o julgamento.

Só isso levou duas horas e meia. O vizinho foi ouvido e a policial que cometeu o primeiro ato de abuso de autoridade. Não me parece que o réu esteja em bons lençóis. A principal tese do advogado de defesa falhou e ele me pareceu muito passivo. Não tem postura, fala baixo e lê a defesa. A promotora é o contrário.

Uma última nota que interessa aos que estudam direito: o sistema de perguntas às testemunhas não é presidencialista, como no Brasil, onde a advogada e a promotora dirigem as perguntas à juíza, que, então, as repergunta ao réu. Aqui ambas podem preguntar diretamente ao réu, sem passar pelo crivo da juíza.

O julgamento terá continuidade no dia 14 de dezembro. Já reservei o dia para voltar ao tribunal e acompanhar o desfecho do caso.

Com isso me despeço! Abraços!

sábado, 21 de novembro de 2009

Container's City - Porto de Hamburg


Galera, hoje eu fiz uma viagem incrível! O destino? O porto profundo de Hamburg, a partir de uma perspectiva à qual poucos têm acesso.

Fomos, novamente com a universidade, à "cidade dos containers", no porto de Hamburg. Da cidade só se consegue ver as gruas e guindastes, mas não se tem a menor idéia da dimensão do gigante. Fomos de ônibus, já que é proibida a entrada de pessoal não-autorizado em diversas áreas.

Tudo no porto de Hamburg é "o maior do mundo" e o "mais moderno do mundo". Ocupa hoje a 11ª posição entre os maiores portos do mundo - o primeiro é o de Singapura. Mas possui um sistema de descarga e carga de containers que eu nunca sonhei que existisse. Foram três horas de êxtase. Quanto mais adentravamos no porto, percorrendo o trajeto dos containers, mais impressionado eu ficava. Tudo isso debaixo de um pôr-do-sol espetacular!

Na sua parte mais moderna, o porto é controlado por dois programas de computadores que, combinados, são responsáveis pela eficiência e pela precisão na descarga das mercadorias. Esses programas controlam cerca de 120 caminhões por meio de sinais eletrônicos, além dos guindastes. O caminhão simplesmente não tem cabine, direção, nada. O mesmo com as gruas. Fala sério, dá pra acreditar?!

Nessa foto pode-se ver o caminhões, organizados em fila atrás dos guindastes, aguardando sua vez

A área do porto é enorme! Movimenta cerca de 3 milhões de containers por ano (um terço desses vindo da China). Esses programas têm todos os caminhões gruas e containers controlados via satélite e enviam informações para os caminhões. Assim, eles se posicionam próximo ao navio, com uma precisão de milímetros, mesmo abaixo dos guindastes. Estes colocam os containers nos caminhões, que seguem um percurso preestabelecido até determinadas áreas do porto (indicada por um número no container), a depender do tipo de mercadoria.

Todo esse processo dura minutos e são mais de 120 caminhões ao mesmo tempo trabalhando. Simultaneamente podem ser descarregados 12 navios de grande porte na "cidade dos containers". Grande porte significa 6000 containers a bordo! O resultado de toda a automatização é a descarga de um navio inteiro em 36 horas!!! Não há tempo sequer para ter prostiuição no porto... E isso é só a parte moderna. Há ainda o modelo tradicional, com gente dirigindo caminhões e controlando as gruas. Depois de descarregada, a mercadora segue por trem para a europa do leste e por caminhões (convencionais) para o restante da europa.


Não há palavras para descrever a sensação de ver um porto gigante funcionando sem gente. Os caminhões comandados por controle remoto, as gruas sem manobristas, os containers indo de um lado para o outro do porto... A visão do futuro. Dois programas de computador abastecem a europa inteira com bens vindos de todo o mundo. De 3 milhões de containers, uma média de 5 containers se perdem anualmente, por erro no envio ou processamento da informação. Próximo passo será a automatização dos aviões e dos carros.

Mas fica a pergunta: e se eles deixam de funcionar? E se há uma pane no sistema? Melhor acreditar que são infalíveis...

Novamente, vale lembrar a frase característica do Hamburger Hafen: "Aqui já sopra hoje o vento de amanhã".

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Shows em Hamburg

Em homenagem ao meu amigo Iêdo, em decorrência da notícia de sua provável ida a São Paulo para o show de Coldplay em março, vou falar um pouco dos shows em Hamburg.

Como já postei anteriomente, os impostos na Alemanha são altos, o que torna os preços dos shows quase insuportáveis. Mesmo bandas locais se apresentam a 10 euros ou mais. Por isso, hay que hacer uma triagem prévia, senão vamos a falência.

Entre os shows que perdi, estão: Dream Theater, Shinedown, The Fray, The All-American Rejects, Archive, Muse e Greenday. Entre os que estão por vir, temos The Prodigy, Franz Ferdinand, Paramore, Scooter, Pet Shop Boys e Nickelback.

Estes, é claro, são os mais badalados. Nem todos me agradam. Isso é apenas para dar um panorama da dinâmica cultural de Hamburg. Dinâmica essa que poderia ser bem mais movimentada, já que as bandas focam especificamente em Berlin quando vêm a Alemanha. Para a segunda maior cidade do país, considero Hamburg desprestigiada nesse ponto. Além disso, tem o fator preço. Nickelback, por exemplo, tá a 65 euros a entrada! Muse foi 55 e Greenday 45. Para terem uma idéia, gasto menos de 60 euros com todas as feiras do mês inteiro.

Por isso, quem vem a Alemanha pensando em curtir alguns mega-concertos, tem algumas opções: ou arranja imediatamente um trabalho no Brasil, ou começa a poupar a mesada ou se vira num trampo por aqui. Do contrário pesa muito no orçamento frequentar grandes shows assim.

Mas se tivesse um de U2 aqui, bem que eu abriria uma exceção...

Abraços a todos e todas!

Studenten demonstrieren!


Capa do Die Welt - um dos mais influentes jornais alemães atualmente: "Manifestações contra o sistema de ensino". O dia hoje foi de protestos e passeatas por toda a Alemanha, numa ação incrivelmente organizada dos estudantes. Se algums coisa vai mudar, não se sabe. Mas que todo o país está sabendo que há insatisfação quanto ao ensino, não se pode negar.

O tema aqui está pegando fogo. Em todas as universidades do país há estudantes em greve, auditórios ocupados e ações contra a conhecida reforma de Bologna. Por outro lado, há os que defendem a cobrança das taxas como condição para boa qualidade da universidade - vide USA. Dizem que 750 euros por ano não abala a rotina de um estudante - além do que esse valor pode ser pago depois que o aluno estiver empregado, como acontece com o FIES.

Em Hamburg, cerca de 1.500 foram ao centro da cidade para protestar. Um número relativamente baixo, se considerarmos que a universidade tem mais de 35 mil alunos e a cidade conta com 1,8 milhão de habitantes. Conversando com Georgia, uma estudate grega, ela me disse que na Grécia esse número seria muito maior. Lembrei dos protestos de 2007, quando ocorreram confrontos com a polícia, carros queimados etc. Lá a coisa pega fogo. Em compensação, não há taxas universitárias.

Em toda a Alemanha, 85.000 estudantes foram às ruas. Só em Berlin, 13.000! A vivência desse momento também faz parte de um intercâmbio. Relato o que ocorre aqui, para que o pessoal que pretende vir ano que vem perceba um pouco da conjuntura política na universidade e no país como um todo.

Seguem algumas fotos dos protestos em todo o país:



Até a próxima!

Visto - Documentos

A partir agora é oficial. Já tenho visto de estudos alemao!

Hoje pela manha fui ao Auländersamt para resolver mais essa pendência. Logo na entrada, o clima é de velório. Várias pessoas, ninguém conversa entre si, alguns com olhares distantes, outros analisando os documentos, certificando-se que está tudo correto.

Estava preparado para esperar mais de duas horas. Mas uma a uma, as pessoas foram sendo chamadas e seu antendimento raras vezes demorava. Comigo, a mesma coisa. Fui atendido rapidamente, interrogado acerca de alguns dados importantes, mas, por ser estudante de interâmbio, nao tive maiores problemas.

Ao todo, tive que apresentar os seguintes documentos: comprovante de matrícula (Immatrikulationsbescheinigung), contrato de aluguel (Mietvertrag), recibo do pagamento da última mensalidade da residência universitária, comprovante de residência em Hamburg (Meldebestätigung), cópia do passaporte e comprovante de seguro de saúde por uma companhia alema (Krankenversicherung). Taxa de emissao (salgada): 60 euros. Validade do visto: um ano.

O bom é que o visto é impresso imediatamente. Passou pelo crivo dos funcionários, eles já ficam com o passaporte e imprimem na hora. Pode ser que tenha ajudado nessa celeridade o fato de eu ter obtido uma permissao já no consulado alemao em Recife - embora nao fosse necessária, já que tive refazer todo o procedimento aqui.

Com essa, já se foi mais uma! E que venham mais!

PS: estou escrevendo nos computadores da universidade. Por isso, perdoem a ausência do til nas palavras - o alemao nem sonha que ele exista.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Audimax ocupado!


O Audimax da Universidade está ocupado pelos estudantes!

Os alunos estão se solidarizando com os colegas da Universidade de Viena, onde as taxas universitárias sofreram aumento. Protestam contra as taxas (Studiengebühren), que aqui chegam a 750 euros, e contra a mercantilização do ensino. Um dos principais alvos do protesto é a reforma de Bologna, que, em acelerando os cursos e tornando-os eminentemente técnicos, acaba por não formar com qualidade, nem ensejar um ensino crítico, ou ao menos, uma portura crítica aos alunos.

O aluno que conclui a graduação, reduzida a três anos após a unificiação do ensino na UE, tem que entrar no mestrado. E para consegui-lo, deve ter notas na ordem de 1,5 (numa escala de 6 a 1, na qual 1 é a melhor). Isso forma robos e maquina, mas cidadãos, de maneira nenhuma. E quem é que, com 5 anos de estudos, é mestre em alguma coisa?

Os estudantes protestam ainda contra o sistema de eleição do reitor da universidade, que, ao que parece, não conta com a participação dos discentes - embora não possa confirmar essa informação. Essa semana os protestos se espalharam por toda a Alemanha e amanhã (17.11.2009) haverá uma séria de atos, por todo o país, contra o atual sistema de ensino superior.

Parece que o problema da mercantilização da educação e da anti-democraticidade no sistema de ensino não é um problema nacional não... Primeiro mundo também tem dessas coisas.

E vamos a luta!

sábado, 14 de novembro de 2009

Anwaltskanzlei - Escritório de Advocacia

Na quarta-feira passada (11.11.2009) fui, junto com alguns alunos do curso de direito, a um escritório de advocacia próximo a Universidade. Essa foi mais uma atividade coordenada pela professora de alemão jurídico, com a finalidade de nos familiarizar com o universo jurídico da Alemanha.

O escritório pertence a um turco chamado Mulahin Husseyin, o que tornou a visita ainda mais interessante. Se, de uma lado, 80% da população carcerária de Hamburg é composta por turcos, por outro, em diversos setores é possível encontrar turcos bem-sucedidos. Esse advogado está na Alemanha desde 1972 e concluiu o curso de Direito aqui.

O escritório é bastante simples, divergindo em pouco de uma casa normal. Lá trabalham 3 advogados e uma secretária. Trata-se de um escritório pequeno para o padrão alemão, que via de regra possui 10 advogados, em áreas especializadas. No caso do senhor Husseyin, os casos são sempre de direito de família, de estrangeiros e responsabilidade civil. Pudemos observar diversos processos (Klage) e Medidas Cautelares, que em pouco divergem do Brasil, se não em virtude de detalhes formais.

O que me deixou intrigado foi que não há sequer um estagiário no escritório, sendo que a universidade exige que o aluno passe por, pelo menos, 3 meses de prática (Pratikum) num Anwaltskanzlei. Eles apenas aceitam quem já concluiu o curso e precisa conluir o Referendariat (etapa intermediária do Exame da Ordem), para poder exercer a profissão.

Curioso com a ausência de estagiários, que, no Brasil, são responsáveis pela dinâmica de diversos escritórios, perguntei sobre o volume de processos. No caso específico, eles recebem 300 novos casos todos os anos - sendo que destes, apenas um terço vai a juízo. Isso explica alguma coisa...

Outro aspecto interessante é que há um enorme cuidado em se resolver os casos extrajudicialmente. Nos casos típicos de reparação civil, os advogados de ambas as partes entram em contato para encontrar uma solução - numa espécie de conciliação extra-judicial. Levando em conta que, de 300 novos casos, apenas 100 seguem a juízo, pode-se dizer que a taxa de sucesso na negociação é elevada. Coisa que não existe no Brasil. Por esse motivo, os julgamentos aqui acontecem com celeridade e não se atropelam numa fila sem fim. Igualmente por esse motivo, não existem aqui os Juizados Especiais, visto o princípio da celeridade processual ser respeitado em todas as instâncias.


Na semana que vem, dia 25 de novembro, vamos visitar a casa de detenção de Hamburg. No mês de Dezembro, será a vez da maior penitenciária da Alemanha, que também fica na cidade, a "Alcatraz" da Alemanha - Santa Fu (foto). Na altura falarei um pouco sobre o sistema de ressocialização dos presos, as penas etc. Mas quem se interessar, pode já encomendar pela internet um boné ou uma camisa produzidos pelos detentos, através do site www.santa-fu.de

Grande abraço!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Berlim - Turismo de Inverno


Pra matar a saudade. Só Berlim.






Post do vídeo de Bon Jovi: http://www.youtube.com/watch?v=LkOB-e5_GWQ

Até a próxima!

Berlim - Mauerfall (Reloaded)

A queda do muro de Berlim foi um dos eventos políticos mais importantes da história mundial recente. Não só dividiu a cidade em duas, como também o mundo, durante mais de 25 anos. A história de sua construção é conhecida, assim como sua queda. A oportunidade que tive aqui foi de conhecer mais aproundadamente os acontecimentos que antecederam a simbólica "queda" - ou abertura das fronteiras, no dia 09 de novembro de 1989. No final de semana passado comemoraram-se os 20 anos da queda do muro.

De início, estava certo que não estaria presente nesse momento tão único, já que a excursão com a universidade apenas duraria um dia - o sábado todo. Mas o incrível, inimaginável aconteceu! Na noite do sábado, uma hora antes de voltar a Hamburgo, me encontrei com Andrea num café em Berlim. Ele me fez, então, a irrecusável proposta de ficar em Berlim para cerimônia da queda do muro, hospedado na casa de sua tia. Voltaríamos na terça, dia 10. Eu tinha menos de trinta minutos para pensar.

Só estava com a roupa do corpo, mas e daí? Quem recusa uma proposta dessa? Aceitei!

A cidade estava em frenesi. Gente de todas as partes do mundo afluíam a Berlim para presenciar os 20 anos da queda do muro. TV's de toda a europa e do mundo cobriam cada segundo do evento. Visitamos a cidade inteira até o momento mais esperado. Chuvia muito e o frio era implacável! Mas como dizia o poeta, "tudo vale a pena, se a alma não é pequena".

Primeiro, a Filarmônica de Berlim brindou a multidão com um concerto gratuito em plena Brandenbrug Tor. Depois, os líderes políticos de cada um dos Estados envolvidos diretamente na tensão provocada pelo muro discursaram. Pela ordem: Sarkozy (vaia), Medvedev (vaia), Gordon Brown (nada), Hillary Clinton (e um curto vídeo de Obama - aplausos) e, por fim, Merkel (misto). Na bancada de honra, Durão Barroso (presidente da UE), Gorbachew, José Sócrates (primeiro ministro de Portugal), Berlusconi (haja vaia) e outros.

Bon Jovi cantou uma música escrita especialmente para esse momento: "We weren't born to bow" e um coral classico veio a seguir. Sem sombra de dúvidas, o momento mais impressionante da noite foi a queda das 1000 pedras de dominó, posicionadas ao longo do mesmo percurso seguido pelo muro. Essa pedras gigantes foram pintadas por estudantes e artistas de todo o mundo com mensagens de liberdade e solidariedade. A queda durou cerca de 15 minutos, ao final dos quais seguiram-se diversas queimas de fogos de artifício.

Fica, após toda a celebração, a refelxão acerca dos outros muros que temos pelo mundo. Muros não apenas físicos, mas mentais. O problema das fronteiras entre o hemisfério norte e sul do planeta é real e expõe a existência de outros muros, mas que poucos querem ver. Não vou negar que foi interessante ouvir e ver Hillary Clinton clamar pela queda "dos muros" por todo o planeta e pela liberdade dos povos, quando os EUA têm um belo exemplar na fronteira com o México. Ver: http://pangeaday.org/filmDetail.php?id=14

Com isso me despeço. Grande abraço a todos! E muita Freiheit também!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Berlin - Mauerfall

Na segunda-feira que vem, dia 09 de novembro, comemoram-se em Berlin os 20 anos da queda do Muro que dividiu a cidade durante décadas.

Já estive em Berlim antes e posso garantir que é uma sensação única estar onde exisitiu anos atrás um muro que dividiu e, se brincar, ainda divide a Alemanha. Até hoje os alemães do oeste reclamam que pagam impostos para sustentar os alemães orientais, dada a discrepância econômica entre ambas as regiões.

Agora sensação única mesmo deve ter sido ir ao show de 20 minutos que U2 presenteou à cidade. Isso mesmo, de graça. Mas com entradas limitadas, que se esgotaram em menos de uma hora, na internet. Assim não vale...

Amanhã estou indo novamente para Berlim, dessa vez para passar apenas o sábado. Trata-se de uma excursão organizada pela Universidade, na qual tivemos que pagar apenas 10 euros, para ir e voltar de ônibus, no mesmo dia. Só a pasasgem de trem custa 40. Faremos um pequeno tour pelos pontos mais importantes e tenho pra mim que será divertido revisitar à cidade, dessa vez com outra perspectiva - e sem estresse. Além disso a turma que vai é a melhor, o que garante a qualidade da viagem. Por fim, 10 euros gasta-se aqui em qualquer final de semana...

Esquema mesmo, tem Andrea, o palermitano. Conseguiu a casa de um amigo em Berlin e deverá ficar lá até a terça-feira. Estará na festa de celebração, na segunda! Sortudo...

Agora vou indo lá, pois comprei alguns matimentos e vou preparar saduíches, para comer por lá - durante a viagem, que dura 4 horas, e depois. E ainda tenho que passar algumas roupas. O ônibus sai amanhã às 7, por isso, tenho que me levantar às 5 e meia. No rest!

Abraço enorme a todos! E até a próxima, com algumas notícias de Berlim.

Sistema Legal Alemão - II - Noções gerais


Na quarta-feira assistimos a um julgamento no Tribunal Criminal de Hamburg. A iniciativa é da Universidade, que abriu uma turma de alemão só para os alunos de Direito. No calendário estão algumas visitas interessantes a alguns tribunais, grandes escritórios de advocacia e prisões. Éramos brasileiros, chineses, japoneses, checos e russos.

O Tribunal fica ao lado de uma enorme casa de detenção (Untersuchungsgefängnis), ou o contrário, no centro da cidade. Nessa prisão ficam os presos que aguardam julgamento. Foi construída de modo a que tenha conexões diretas com todas as salas de audiência. O acusado é conduzido à sala por meio de corredores subterrâneos e elevadores entre as paredes do tribunal. Ele já chega diretamente na sala, através de uma porta que só abre por fora. Negócio que nem em filme não se vê.

Logo na entrada no Tribunal nota-se a segurança reforçada. Não se pode entrar com celular nem com notebook. Diria que o procedimento é tão minucioso quanto o de qualquer aeroporto. Passando pela triagem, fomos direto a uma audiência. O caso era simples: um rapaz turco, de 25 anos, bebeu demais e bateu na namorada, numa boate. Estava sendo, então, processado por lesão corporal leve (Körperverletzung).

O contexto da audiência foi fácil de entender, pois o caso não era complexo. Apenas foi preciso convocar a namorada. Mas entender tudo o que foi dito é um objetivo que pretendo alcançar brevemente.

Em linhas gerais, o sistema alemão é bem semelhante ao brasileiro. Na sala estavam a Juíza (Richterin), o Promotor de Justiça (Staatsanwalt), o advogado de defesa (Rechtsanwalt), a assistente, elaborando o protocolo da audiência, o réu (Angeklagte), a vítima/testemunha (Opfer) e dois aspirantes a Juiz. Nesse caso específico, o rapaz era empregado e estava noivo dessa moça. A noiva pediu que ele não fosse punido, pois era a primeira vez que acontecia isso entre eles. Apesar de ter um histórico de algumas brigas e lesões corporais, o rapaz não foi punido com pena privativa de liberdade. Apenas uma pena pecuniária. Mas foi advertido que se voltasse a se agredir quem quer que seja poderia se dar mal.

Um aspecto interessante, que chamou minha atenção logo ao entrar na sala, é que não há crucifixos, nem qualquer outro símbolo religioso. Os alemães travaram uma discussão sobre a possibilidade de expressão unilateral de religiosidade em órgãos estatais e chegaram a conclusão que são um Estado laico, secular, e que não é admissível que se pendurem símbolos religiosos nos órgãos estatais. Sequer no Preâmbulo da Constituição é mencionada a palavra "Deus". O que é exercido pelo Estado é em nome da Sociedade e pela Sociedade, sob a proteção e fiscalização da Sociedade.

Ao final da audiência, conversamos com a Juíza e pudemos perguntar um pouco sobre o caso e as razões da decisão. Depois, fomos ao Bistrô que há no interior do tribunal (ao lado de uma grande cantina) e pudemos conversar com a professora que nos acompanhava sobre o sistema legal alemão. Falamos acerca da formação dos juristas, do sistema de penas, das prisões etc. Porém, serão precisos outros tópicos para tratar de tudo isso.

No momento, fico por aqui. Até a próxima.

domingo, 1 de novembro de 2009

Fotos Retroativas

Como sei que faltam algumas fotos minhas no blog, seguem algumas que consegui através de outras câmeras. Mas não se preocupem, pois ainda esta semana comprarei uma, sem falta!

Essa foi logo na primeira semana em Hamburg, na festa de recepção dos Erasmus e demais estudantes estrangeiros. Na foto, Diogo, Ana (PT), Petre (RO), eu, Olivia (FR), Georgia (GR), Thomas (FR) e Catarina (PT). A cerveja é Astra, produzida em Hamburg, bebida oficial dos fãns do St. Pauli Football Club. Os fãns do HSV só bebem Beck's, mas Astra é bem melhor!

Essa aqui foi na casa de Albana e Andrea, na ocasião da macarronada que Andrea preparou para um exército. Uma delícia! Na foto, Egor (RU) e Katherine (D).


Essa última foi no Fischmarkt, ou Mercado do Peixe, de Hamburg. Era o aniversário de Olívia e decidimos fazer uma hora por lá e aproveitar para comer uma baguete de salmão defumado, fresquinho! Na foto, Matthias (Suíça), Olivia, Mike (EN) e Catarina. Ao fundo, o porto adormecido de Hamburg. Vejam como está quente por aqui...

Até a próxima! Com mais fotos, dessa vez, autorais!

sábado, 31 de outubro de 2009

O cara da estética do fracasso - Bernardo Carvalho

Olha aí a prova de que eu não estava delirando no penúltimo post. Eu e Bernardo Carvalho no restaurante Arkadesh, em foto feita por Paola.

Bons momentos!

Hafencity - O futuro está aqui


Na sexta-feira, pela manhã, dei uma volta na parte do porto de Hamburg que esté sendo reconstruída. Já no consulado alemão eu tinha visto algumas imagens dos projetos para valorização da área do porto, mas não acreditava que fosse tão real. Há mais de um século, os produtos trazidos pelos navios à cidade eram armazaenados na Speicherncity, ou "cidade dos armazéns" . Com o crescimento do porto, esses armazén tornaram-se cada vez mais obsoletos.

Com a segunda guerra mundial, a cidade inteira foi destruída. Então entra em cena uma série de projeto ousados para reconstrução dessa área, substituindo os antigos armazens por edifícios modernos, tanto residenciais, quanto comerciais. Resultado: um espaço extremamente valorizado numa região geralmente problemática. Pode-se comparar com o que foi feito em Belém do Pará.

Mas ainda há muito o que ser feito. Num golpe de visão, pude contar 13 gruas em atividade. Trata-se de uma "cidade" em construção, um microcosmo independente de Hamburg. Toda projetada, centrímetro por centrímetro. Não há uma previsão certa para a conclusão de todas as obras, mas acredito que até 2015 estará tudo pronto.

Um detalhe apenas sobre Hamburg: tem 1,8 milhão de hambitantes, mas possui um PIB igual ao de Berlim, que alberga 3,4 milhões, o dobro! A cidade é rica, as pessoas são ricas e há pouco desemprego comparado com Berlim. O que o segundo maior porto da Europa não faz com uma cidade?

Para os que se interessam em arquitetura moderna, os projetos estão todos nesse endereço aqui: http://www.hafencity.com/index.php?set_language=en&cccpage=projekte

Para os mais preguiçosos, seguem algumas imagens, ao menos, da Filarmônica do Elba, antigo armazém de Chá e Café (provavelmente vindo do Brasil e Comlômbia).


Elbphilharmonie em 2005, antes do início das obras.










Área do antigo porto que está em obras. Pode-se perceber claramente o modelo portuário, com os cais para cada navio:









Elbphilharmonie em maio de 2012, ao final das obras:












E pensar que em João Pessoa nós não conseguimos nem dar início às obras no Porto do Capim/Varadouro...

A vontade mesmo é voltar aqui quando estiver tudo pronto! Como Danilo disse, temos esse característica de estar numa cidade quando ela está em construção. Em Coimbra foi a mesma coisa - chegamos numa cidade, partimos de outra. Não fosse a estreiteza de minha estada aqui, tenho certeza que o mesmo se repetiria!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A viagem é uma peregrinação de identidades


Sabem aquele dia no qual aconteceram tantas coisas, que ao final do mesmo você acha que já passou uma semana, mas você não queria que acabasse?

Pois é, ontem (29.10) meu dia foi assim. Começou mal quando recebi a notícia, por meio de minha professora, de que não poderia cursar alemão aqui porque não sou Erasmus. Mas conversei com a coordenadora do curso e ela permitiu que eu fizesse um curso especial de alemão, não tão aprimorado, mas simultâneo com um curso de alemão jurídico.

Depois disso, foi o dia em que mais falei portguês desde que cheguei em Hamburg. Alemocei na cantina da Uni-Hmbg com uma amiga brasileira, Elisa, de Belo Horizonte. Elisa é casada com um alemão e veio para Hamburgo fazer um master em Arquitetura. Durante o almoço, conhecemos uma outra brasileira, de Fortaleza, a Paola. Ela estuda Etnologia e Psicologia na Universidade e mora em Hamburgo há 2 anos, com a mãe. Antes disso morou 3 anos em Londres, pois a mãe estava no doutorado.

Depois do almoço bebemos um café juntos e fomos em busca de uma professora paraibana que mora em Hamburg e dá aulas na universidade há bastante tempo - a professora Vânia Karsch. Queria pessoalmente agradecê-la por ter auxiliado no meu processo de intercâmbio para a universidade de Hamburg. Essa senhora, simpatissímia, é hoje a grande ponte entre a UFPE, UFPB e a Uni-Hamburg! Ao falar com ela, avisou-me que a noite haveria uma noite literária no prédio de filosofia, com a apresentação da tradução em alemão de dois livros de Bernardo Carvalho. Assisti a uma aula cansativa e fui à palestra.

Carvalho é jornalista pela Folha e escritor (foto acima). Tem seus livros traduzidos em diversas línguas e ganha cada vez mais projeção fora do Brasil. Nenhum dos três fazíamos idéia de quem ele era e resolvemos arriscar. No mínimo, iríamos ouvir um pouquinho de português e depois sair para jantar juntos de todo modo. Mas a surpresa foi deveras agradável! Dos trechos que foram lidos e do debate que se seguiu, gostei bastante do que ouvi. Bernardo investe numa literatura do vulnerável, do perdedor. Aposta em histórias de fracasso e usa constantemente termos negativos nas obras. Só não foi melhor, porque a tradução era simultânea, com aquela interrupção na fala do palestrante. O que também não prejudicou a integridade do evento.

Ao final da apresentação, fomos falar com o escritor, parabenizá-lo e trocar algumas idéias mais. Eis que surge a velha proposta de jantarem os organizadores e o palestrante, e nós fomos expressamente convidados! Fomos a um restaurante turco muito bom (Arkadesh), conversamos muito português e demos muitas gargalhadas, tudo isso acompanhado de boa comida turca e cerveja alemã. Entre "causos" vividos na Alemanha e algumas brincadeiras, normalmente surgia um tema literário: um livro recém-publicado, uma tradução mal feita, um autor preferido... e umas frases interessantes. Lá pras tantas, um professor gaúcho, falando sobre um livro que tinha lido, relembra uma passagem que marcou a noite: "A viagem é uma peregrinação de indentidades". Poucas vezes vi tantas palavras, teses, pensamentos condensados numa só frase. Infelizmente, não lembro o nome do livro, nem do autor.

Com essa frase me despeço, comprovando que uma viagem é, realmente, uma peregrinação de identidades!